Nos setentas não tinham ainda sido inventados os canais que viriam
a democratizar o consumo de música. Na primeira metade não tínhamos, por cá,
sequer “inventado” a Democracia, mas estava a ser (re)inventada a música que
faria as delícias duma geração. E veio por aí fora em catadupa. Era a época de
Pink Floyd, Yes e Jethro Tull às pazadas. Lá íamos consumindo o que passava na
rádio ou desgastando furiosamente um ou outro vinil que um amigo felizardo
recebia no aniversário. Algumas discotecas (assim se chamavam as lojas que
vendiam discos) tinham umas luxuosas cabines onde, estivesse o caixeiro de boa
catadura, nos deixavam ouvir algumas faixas. Era uma boa maneira de passar a
tarde. Um amigo meu tinha uma tática para sair airosamente sem comprar nem um
single: - tem o LA Woman dos Doors? (que ele sabia esgotadíssimo). Não? Que
pena! Voltamos para a semana.
Comprar um disco era missão para ser preparada durante semanas, e levada a cabo
por um comando de amigos escolhidos a dedo (not yet "saving it up for friday night"). Numa das vezes em
que era eu o “dono da bola”, e estava já decidido o que iria comprar, um amigo
impôs-me no último momento um disco que eu não conhecia. Tinha uma capa
estranha, e um nome a condizer: Dire Straits. Todos temos uma música (ou
várias) que funcionou como game-changer na nossa “formação musical”. Aquela a
que de tempos a tempos voltamos com o mesmo prazer. Como aquele pitéu como só a
tia lá da aldeia sabe fazer, cujos sabores conhecemos bem, mas que nunca deixa
de nos deleitar. No meu caso pode muito bem ser Sultans of Swing. Fica aqui uma
“extended version”, só porque nela o Mark Knopfler parece não querer jamais
separar-se da guitarra.
Sabemos que a barriga está prestes a soçobrar, mas a tia não para de nos encher
o prato.
Em breve nos atacaria a febre do sábado à
noite, e uma certa rapariguinha nos alcançaria a descer as escadas do shopping.
©outinhas 2022.04.02
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